Ilustração de Luís Próton |
C
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ostumo
dizer que o colegial é uma creche para adolescentes. Os garotos vão para lá por um período, fingem que aprendem, seus
professores fingem que tem algum interesse no aprendizado de seus alunos e o
governo finge que oferece educação a seus futuros votantes. E tenho mais a
dizer: Boa parte da parte relevante de meu conhecimento provém de meios alheios
à escola. O que eu vejo são milhões de fórmulas de física das quais eu e
milhões de alunos não usaremos sequer um radiano em nossas vidas futuras.
Milhões de regras gramaticais das quais não precisaremos de um ponto, sendo que
muitos não escreverão senão bilhetes rápidos, e os que escreverem algo um pouco
mais longo provavelmente não sentirão falta delas. Fatos históricos inúmeros
com desdobramentos inumeráveis mas, no fundo no fundo e em essência, são todos
conhecimentos deitáveis fora, e que se resistem à posteridade é puramente
por alguma aptidão pessoal de alguns
alunos específicos. Generalizar isso a milhares de alunos em função de algumas
dezenas que o saberão naturalmente por sua própria aptidão é um erro atroz. O
fato é que as pessoas dão uma importância demasiada à escola, ao ponto de
tratá-la como fonte absoluta e bastante de conhecimentos.
Não quero dizer com
isso que a escola não tenha absolutamente relevância. Muito pelo contrário, nos
dias atuais tem relevância especial. Mas, como muitas coisas que provavelmente
serão citadas neste veiculo, sua existência provocou sua necessidade. No atual
processo, a inexistência de uma instituição
como esta levaria os jovens a situação parecida com a de um animal domesticado
que, sendo toda a vida pajeado em casa, voltando à selva já não conseguiria
sobreviver sozinho, e então morre em um meio que deveria ser de seu completo
domínio. Assim ocorre hoje, porém, em tempos mais antigos, não haviam escolas.
Todos adquiriam os conhecimentos que queriam. (O que vem a ser uma hipocrisia,
pois tirados as mulheres, os escravos, as crianças, os estrangeiros, os de cor
diferente, os gays... o que se pode chamar de todos?). Foi nesse período que
surgiram os mais visionários cientistas, os mais relevantes filósofos, os mais
inspirados músicos, e muitas das coisas que entraram pros anais da História ou
que fazem hoje parte de nosso dia a dia. Todos aqueles o fizeram a partir do
próprio conhecimento. Daí os conhecimentos tornaram-se muitos e por motivos
didáticos tiveram de ser divididos. Surgiram assim as nossas conhecidas e
odiadas matérias. logo, para encurtar o processo de conhecimento da sabedoria
adquirida e formulada durante anos, esse sistema foi surgindo pouco a pouco.
Hoje, se as pessoas tivessem de ser aut0-didatas, seriam ainda mais ignorantes
do que o são. Nesse caso, se as pessoas não aprendem em lugar nenhum, então a
escola tem um papel importante na formação de um jovem que não quer ser
formado.
Mas a escola é, na verdade, e devia ser encarada dessa forma, uma
metáfora da vida em sociedade, sendo esta uma das partes mais relevantes e mais
perpétuas de uma instituição de ensino. Vejam vocês, e verifiquem a veracidade
do fato: Em qualquer sala de aula do circuito normal de ensino de qualquer
lugar da Via Láctea, sempre tem aquele (ou, mais precisamente, não querendo
parecer machista, aquela) que toma parte da limpeza da sala, os que se
manifestam em nome da turma cobrando atitude dos representantes, os que
representam, os que dominam e os que são dominados. Uma minoria que recebe
muito e uma maioria que recebe pouco (no caso o contra-cheque seria o boletim e
a nota é o soldo em questão) e por aí vai, uns cuidando e outros usufruindo do
bem estar da turma em relações de amor, ódio ou inércia, ou seja, mais ou menos
como uma miniatura da sociedade. Porém entre os muros do colégio estamos meio
que protegidos. Mas é aqui que vamos sendo domesticados para a vida para valer,
onde aprendemos a nos socializar e onde criamos muitos dos nossos aliados e
inimigos. A matéria que vemos no maldito quadro negro acaba sendo um pano de
fundo para essas situações. Então, não se deve dar uma importância absoluta ao
colégio. Tirar uma nota baixa,
perder um bimestre, não entregar um
trabalho, faltar um dia de aula, não é motivo para o mundo acabar. Se, por
exemplo, um dever que apenas somado a mais uns dez te dará um misero ponto ao
final do bimestre, e paralelo a ele, uma musica estiver para vir e der sinais
de que nunca mais virá sem deficiências significativas, não hesitaria em compor
a música. Até mesmo porque eu posso assimilar quase tudo o que se passa na sala
de aula, inclusive aquelas
informações que vem nas entrelinhas e, por favor, não exagerem o que eu digo. É
óbvio que sempre tem aquela função em matemática em que você se distraiu,
aquela fórmula de física que você não entendeu as variantes mas, num contexto geral,
a matéria sempre estará lá. Enfim: Dêem a devida importância ao colégio mas
Existem coisas mais importantes que a escola .
Devana Babu - ex-estudante do CEF São José
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